sexta-feira, 1 de março de 2013

Vou louco


Vou, não sei quando,
não sei onde, mas vou,
pois o mundo não é certo,
e também eu não o sou.

Não, não sou certo,
já todos deviam saber,
não digo coisa com coisa,
mas mais nada sei dizer.

Ser certo assusta-me,
não me deixa ser diferente.
Mas, louco é quem não é certo,
e eu sou louco certamente

Sou louco (sim, louco),
mas louco com moderação.
Sou louco só porque escrevo
com cabeça e coração.

Tenho pena, de facto,
de ser assim tão complicado.
Ser normal era mais fácil,
Ser um louco é mais lixado...

Então eu vou, como dizia.
Para onde? Não descobri...
Vou seguindo uma emoção,
vou seguindo que senti.

João S. 13-12-2012

O melhor acordar


Acordo primeiro que tu,
fico a ver-te dormir,
a respirar profundamente,
só isso faz-me sorrir

Com um esperguiçar acanhado,
acordas tu por fim,
soltas um riso apaixonado,
espero que seja por mim...

Sem ser dita uma palavra,
sem nenhum gesto ser feito,
só uma troca de olhares,
torna o momento perfeito.

Ainda nesse silêncio,
solta-se um beijo fugaz,
um simples toque de lábios,
com um "olá, bom dia" atrás.

E é só isso que é preciso,
pra demonstrar um sentimento,
um amor incondicional,
sentido a todo o momento.


João S. 09-12-2012

Venham


Venha de lá então o povo,
agora, que está má a vida.
Deixar na rua a sua prece,
que sabe nunca ser ouvida.

Venha de lá o popular,
todo cheio de indignação,
ralhar com o seu governo,
que lh'and'a comer o pão.

Venha de lá o pobre,
contar a vida deprimente,
do filho que falta à escola
e da mãe que está doente.

Venha de lá o mendigo,
aos donos do mundo pedir,
um prato de sopa quente
e uma cama pra dormir.

Venha de lá o miserável,
pré carcaça apodrecida,
com um pé cá, outro na cova,
dá a luta por perdida.

Venha de lá o defunto,
que lutou pelo seu pais,
que amou a sua pátria,
mas a pátria não o quis.

Venha então de lá o mártir,
que tentou mudar o mundo.
Era, para o povo, um louco,
e com o louco me confundo.

João S. 23-01-2013

Saudade


Chora o céu no meu rosto,
sabe bem, de olhos fechados,
e fechados, mesmo assim,
vejo-nos, a nós, agarrados.

Chora o céu no meu rosto,
aproveito e choro também.
Soluço cheio de saudades,
de quem foi e já não vem.

João S. 26-12-2012

Queria ver o meu futuro


Queria ver o meu futuro...
Queria poder desvendar
o caminho que escolhi
e onde fui acabar.

Queria ver o meu futuro...
Queria poder ver o final,
queria ver as minhas escolhas,
o que fiz bem e o que fiz mal.

Queria ver o meu futuro...
Queria poder conhecer,
a mulher que vou amar,
e os filhos que vamos ter.

Queria ver o meu futuro,
saber como acaba história,
ver tudo o que é importante,
tudo o que fica na memória.

Queria ver o meu futuro,
saber o que está por vir,
saber aquilo que me espera,
saber quando vou partir.

Queria ver o meu futuro...
Queria ver se vale a pena,
se acaba tudo bem,
ou se a alma me é pequena.

Queria ver o meu futuro,
tudo aquilo que ainda não fiz,
saber se, no meio de tudo,
vou fazer alguém feliz.


João S. 12-12-2012

Crise


Mais taxas, mais impostos
um desemprego que não pára.
O Zé Povinho não aguenta...
Mandem vir um Che Guevara.

Andam uns de bolsos cheios,
a gozar de grandes mansões,
enquanto aqui o Zé Povinho,
anda a contar os tostões.

As carteiras andam rotas,
já nada nos podem tirar,
só orgulho e dignidade,
pondo-nos a mendigar.

Sobe a idade da reforma,
aumenta o preço do caixão.
Só nos deixam descansar,
a sete palmos do chão.

Mas a culpa não é deles,
a troika é que é tramada,
tira aos pobres dá aos ricos,
faz-nos a vida mais lixada.

O que mais revolta o Povinho,
são ladrões que a lei não condena,
mas como ninguém o ouve,
nada mais dizem, não vale a pena...

João S. 12-1-2013

Cinderela


O que devo eu fazer,
se nem percebo o que sinto?
Vou dizendo que estou bem,
Mas é evidente que minto.

Será por causa da escola,
o medo dos professores,
ou é dessa rapariga,
que me faz morrer de amores?

Deixei a chance passar,
só pelo medo de errar,
falei falei, sem nunca agir.

Certo é que a deixei escapar,
Agora ao vê-la voar,
Sinto que está a fugir.

Neste impasse em que me vejo,
Tenho a apenas o desejo,
De lhe contar a verdade.

E a vergonha que protejo,
Quebrar-se-ia com um beijo,
E morreria de saudade.

Nas curvas dessa menina,
Vejo a sombra, pequenina,
De uma futura donzela.

É essa mesma menina,
a mulher que me fascina,
e a quem chamo Cinderela.

João S. 17-12-2012